Desabafos de uma quarente[o]na com três filhos

Eu até gosto de estar em casa, ter os meus momentos de descanso, de fazer o que me apetece, umas vezes com mais vontade do que outra, enfim...
Até agora tem-se levado bem; os rapazes continuam porreiros, sem reclamações de maior.
Para o mais novo foi do melhor que lhe poderia acontecer. Adora estar em casa, preferencialmente confinado no sofá. Ponto final parágrafo.

Há poucos dias, o do meio reforçava o seu permanecer em casa, enquanto assistíamos a uma reportagem da RTP, no hospital D.Estefânia, que revelava a quantidade de crianças e jovens infetados pelo Covid 19. Tentou disfarçar a perplexidade, mas saiu-lhe pela culatra o comentário sumido: Então, não diziam  que o vírus só atingia velhotes...; ainda querem que eu saia para apanhar ar? Deve, deve... E por aqui anda resignado e sempre firme nos seus princípios respingões, muito evidentes com o irmão mais novo. "Oh mon Dieu de la France, donne-moi de la patience!" O da France, de Portugal, da Conchichina e arredores. E são estes momentos, que num universo restrito, numa convivência diária e já prolongada, que os meus cabelinhos brancos se vão tornando mais evidentes. Mas pronto.

O mais velho passaria bem, metade da quarentena a dormir. Este rapaz destronaria qualquer urso a hibernar. Nunca vi nada assim... Lá lhe digo que quem muito dorme pouco aprende; que não pode ser porque não tem horas para nada, que parece um morcego (salvo seja) e coisas bonitas assim do género que as mães, quando lhes dá a travadinha ou lhes chega a mostarda ao nariz, dizem!
Depois penso que não vale a pena chatear-me, porque afinal de contas, não há assim muito mais para fazer. E entre horas a fio a jogar, prefiro que durmam (sempre comem menos!) :)
Para além disto, também têm ajudado: põe a mesa, metem e tiram a loiça na máquina, ajudam na jardinagem. Não há escalas de tarefas, isto é, vou apregoando o que está para fazer. Confesso que aí por volta do terceiro ou quarto pregão é que os respetivos cérebros começam a equacionar as consequências da apatia auditiva, que é nem mais nem menos do que fazerem orelhas moucas. Mas não tiveram sorte, porque o volume da minha voz rapidamente se ajusta ao índice de inatividade, e lá enveredam pela atitude colaborante que tão bem lhes assenta, meus meninos! Que remédio... ;)
A limpeza do quarto é que é um castigo e ultimamente, também, o arrumar dos cestos da roupa passada.
Mas depois fazem panquecas - o mais velho e o mais novo. E que boas que são! Limonada, omeletes,...
O do meio - no auge da adolescência - saltita de um lado para o outro, começa tudo e termina quase nada, mas para aqui anda a descobrir a veia de bricolage da mãe.

Nestas idades é difícil mantê-los ocupados (aliás, acho que é em todas) porque o que mais querem é jogar! Para além disto, assistir aos vídeos imbecis de grande parte dos youtubers. Valham-me os santinhos todos do céu, como é que os miúdos acham piada àquilo?
Mas... confesso-vos já aqui, que foi o meu filho que me ensinou o que significava CO-VI-D 19!
E ainda me indagou: Sabes quem me ensinou? Um youtuber! 
Toma lá que é para não seres espertinha, pensei cá para mim, ao que ripostei: Vá lá, uma coisa útil!
- Eles às vezes ensinam coisas úteis! As minhas omeletes são boas, não são? Aprendi com outro! 
Então e não é que são deliciosas e o gaiato faz aquilo com uma perfeição incrível? (e eu não sou capaz...)
- Ok, Migas, rendida!

Ao vigésimo terceiro dia de confinamento e apesar de tudo, estes miúdos têm mostrado um poder de encaixe extraordinário. Estes e todos aqueles que estão refundidos entre quatro paredes. Que campeões!
Aqui à pessoa já lhe vai custando (se dissesse o contrário estaria a mentir). Tenho saudades de vestir uma roupinha sem que seja a bela da legging e da sweat. Ah, mas uns dias calço ténis, noutros pantufas, para não enjoar.... E é basicamente este o outfit - o traidor - que com tamanha elasticidade não nos permite percecionar com exatidão, as tiras de toucinho em redor da cintura ou a camadona de celulite a cravar-se derme adentro. Tentei fazer exercício ao final da tarde, ainda algumas caminhadas, mas depois (que deve ser dos nervos) começo a ver bolos, biscoitos, bolachinhas, torradinhas e não lhes resisto. Mas vou tentar mexer-me sem que seja apenas para levantar o peso dos alguidares da roupa que estendo, que passo, dos metros quadrados de chão que varro e/ou aspiro e lavo e... Também se fazem um belos agachamentos a lavar as cabines de duche: "sobe, desce, insiste, sobe, movimentos circulares dos membros superiores - em 1, 2, 3..." Olha lá... a reter!

O que eu vos digo é que, no dia em que isto passar e me voltar a vestir e a calçar como uma pessoa normal, de cabelo esticado, sobrolho arranjado e betume na face, o espelho até se há-de questionar sobre a identidade da minha pessoa. Neste momento, nem me atrevo a fazer-lhe a pergunta mágica.

Esta relíquia foi nos primeiros dias de confinamento. Outros tempos...



Ainda a sorte (a meu ver) é a chuva. Faz falta e dá-nos menos vontade de laurear a pevide. 




#euficoemcasa














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