O dia em que o Tomás nasceu...


Foi há 12 anos...



Fica o registo de mais um dia especial. Juntaram-se tantos outros, que lhes perdi a conta.
Parabéns a este do meio que me preenche os dias, de uma forma tão peculiar. Entre sorrisos, abraços fortes e cheios vamos construindo a nossa história. Começa assim...



Tudo diferente, tudo igual…

A gravidez não estava a correr bem; encontrava-me de baixa há cerca de um mês e meio. Às 32 semanas de gravidez, aquando da ecografia de "bem-estar fetal”, a médica referiu que o nível do líquido amniótico se encontrava no mínimo, se bem que ainda dentro dos parâmetros aceitáveis, e que o bebé era muito pequeno. Fiquei perplexa! Até então pensava-se que estava tudo a correr bem, não tinha quilos a mais… apenas me sentia um pouco cansada. Aconselhou-me a fazer repouso.

Dirigi-me imediatamente, ao consultório do meu médico obstetra. Disse-me que também partilhava da mesma opinião da colega, em relação ao repouso, muito embora achasse que não se tratava de nada grave. Assim fiz. Permaneci de baixa até ao parto.

A partir deste momento, a minha gravidez pautou-se por uma ansiedade que me dominava por completo. Sentia dores na barriga. Por mais que quisesse descansar não podia; tinha uma família a meu cargo. Surgiram também outros contratempos, mas abrandei…


14 de Março de 2006

18:00  Última consulta de obstetrícia.

Estava mais ansiosa que nunca. Após ter entrado no consultório, quase não tive tempo para me sentar. Em vez dos habituais procedimentos: peso, tensão arterial, o médico mandou-me de imediato deitar na marquesa a fim de me fazer uma ecografia. À medida que ia fazendo a avaliação fazia diversas perguntas:
- Tem repousado?  Frequenta habitualmente ambientes de fumo? Tem bebido muita água?….
Lá ia respondendo a tudo mas com a minha voz já a ficar um pouco trémula. Disse-lhe que queria saber o que se estava a passar. Mandou-me limpar a barriga e disse-me:    
- Vamos lá falar. O bebé tem que nascer amanhã! Dia 15 de Março é um óptimo dia para se nascer! Esta conversa soou-me a relativização; vinha aí algo mais sério.
- Acontece que você já não tem praticamente líquido amniótico; o bebé precisa dele para se alimentar, para sobreviver…. Pesa cerca de 3 Kgs, o que é um bom peso. No entanto tem de sair, aí dentro já não está a fazer nada. Nasce com 38 semanas de gestação, o que é perfeitamente normal.
Em seguida explicou-me todos os procedimentos: escreveu a carta para a admissão no hospital, discriminando tudo o que se estava a passar. Entraria às 9 da manhã pois ele estaria de serviço 24 horas. Primeiro disse-me para não levar o saco pois só ia fazer uma avaliação, depois disse que seria melhor levar. Entraria em jejum. Após alguns instantes disse-me que poderia tomar um pequeno-almoço leve, por volta das 7h30. Assim, esperaria cerca de 12 horas após a indução do parto; caso o bebé não nascesse passar-se-ia então à cesariana. A minha boca começou a ficar seca e as minhas mãos a gelar.
Por fim disse-me:
- Vá para casa, descanse, e fica já a saber que o Tomás nasce amanhã, dia 15 de Março, seja de uma forma ou de outra!
Todo aquele impasse ainda me deixou mais insegura.

Saí do consultório. Fui ter com o Zé que estava cá fora com o Vasco e contei-lhe o que se tinha passado. Decidimos ir deixar o Vasco em casa da Catarina. Lá, chorei, chorei, com medo de que alguma coisa pudesse estar mal com o meu bebé.

Fomos para casa. No caminho telefonei à minha amiga Ana, que mesmo não me tendo seguido de tão perto (uma vez que já não fiz preparação) esteve sempre presente nos momentos em que precisei dela! Estava de serviço. Contei-lhe tudo o que o médico me tinha dito, ao que me disse:
- Onde é que estás? Não podes vir cá ter comigo?
Disse-lhe prontamente que sim.
Estas suas tomadas de decisão deixam-me muito segura e tranquila. Ainda acrescentou:
- Cá é que tu estás bem; vens cá ter para eu te observar. 
Cheguei a casa, peguei nos sacos e lá fui eu. No caminho para Évora comecei a sentir uma ligeira impressão na barriga, mas nada de dores.

22:00 Chegada ao hospital, fui ter com a minha querida parteira. Recebeu-me como sempre, com um sorriso e uma forma que me transmite uma enorme segurança. Levou-me para um quarto e fez-me o toque. Custou-me tanto! Disse-me com uma descontracção incrível (não estivesse ela habituada àquilo!): Mesmo que não quisesses, esta noite vinhas cá fazer-me uma visita! Estás a entrar em trabalho de parto, com dois dedos de dilatação. Agora vais lá para baixo ter com o Zé e por volta das 23:30 dás entrada no banco de urgência, que ele assim ainda pode entrar.  Mas não pôde...
Ainda acrescentou:
- Vai andar de carro e passa por cima das lombas que isso ajuda à dilatação! Tive de rir! 

22:30 Lá esperámos os dois - pai e mãe. Eu ia andando de um lado para o outro, uma vez que as contracções começavam a apertar. Porém, nada que se comparasse com o parto do Vasco. Alguma vez eu conseguia estar em pé??!! Nem pensar! Controlava bem as dores; respirava. De vez em quando lá me agarrava a um ou outro parapeito ou sinal de trânsito. Era o que estivesse à mão!

23:30 Dei entrada oficial no banco de urgência. Um enfermeiro fez a avaliação e mandou-me seguir com o maqueiro. Trouxeram uma cadeira de rodas. Referi que não havia necessidade, mas lá insistiram. Ok, seja feita a sua vontade! Já no 3º piso, sozinha, fui recebida por uma enfermeira-parteira e por uma enfermeira estagiária. Entre perguntas e dores lá entrou a minha querida amiga. Fez-me o segundo toque, e voilà!: 5 cms de dilatação.
Passei de imediato para uma das salas de dilatação que por acaso era precisamente a mesma onde havia decorrido o parto do Vasco; a mesma cama e tudo! Pensei: vamos lá ver o que é que isto vai dar!

Puseram-me o soro e passados alguns minutos chegou o anestesista, que por acaso eu já conhecia. Conversámos um pouco, assinei o termo de responsabilidade e o médico administrou-me a famosa epidural, entre uma e outra contracção. Aqui é as coisas deram para o torto! É que eu tenho pavor a agulhas e afins! Mal senti o líquido na coluna, desmaiei. Só me lembro de dizer à enfermeira que estava à minha frente e a quem quase fracturava as mãos, que me estava a sentir mal-disposta. Acordei completamente alagada em suores! A minha tensão arterial desceu drasticamente! Em seguida, entrou a Ana, que me dizia na brincadeira:
-Então melga! É só eu sair daqui e apagas-te logo?!
Fiz um sorrisinho muito “amarelo” pois não me sentia muito bem. No entanto, passado um pouco, deixei de sentir as dores e em seguida já não sentia mesmo nada, tal não foi a dose! Continuei mal-disposta, mas lá aparelhos não me faltavam. 

Passei toda a noite indisposta. A tensão estava baixa e a fraqueza que sentia também era muita. Entre cubinhos de marmelada e “bolinhas de neve” trazidas pela minha boneca, lá se foram passando as horas, sem dores.

Esta foi uma das razões pela qual não tenho tão presentes as horas, tal como aconteceu no parto do Vasco. Continuava um pouco ansiosa, uma vez que sabia que o líquido era bastante reduzido. Deixava-me segura o facto de estar a ser vigiada, os batimentos detectados pelo CTG serem normais e, principalmente por estar junto a mim, uma pessoa  com a qual já tinha partilhado o momento mais especial da minha vida, até então.

A noite foi avançando. Eu estava por assim dizer no “quartel-general” da maternidade. Ali encontravam-se as mesas com o material dos partos, daí o corrupio. Mas até gostei, pelo menos estive sempre acompanhada. A campainha das admissões não paráva de tocar. Mais outra e outra! Mudava a lua…
O cenário era de agitação, não da minha parte, mas então as minhas “colegas”?! Algumas gritavam que davam dó! É certo, eu não sentia dores, mas só de as ouvir até me doía a alma. Também já tinha passado pelo mesmo: Meninas controlem-se, please! Pensava eu, caladinha que nem um rato!

Já amanhecia. E eu nada! Não tinha dores, mas também não havia meio de parir. Comecei a ficar com algum stress. Pensava: não tarda nada está aí o médico; já aqui estou há uma série de horas… Estou no bloco operatório não tarda nada! Era a última coisa que queria que acontecesse. Gostava de ver e sentir tudo (que é como quem diz; antes assim!), como da outra vez. Durante a noite a Ana foi várias vezes junto a mim. Coitada, mal tinha tempo para se coçar. Entre uma e outra muda de resguardo lá me ia confortando.


15 de Março

07:10 Só ouvia enfermeiras de um lado para o outro, mulheres a gritar… O que é isto?? Então e eu? E não é que no meio daquela agitação começo a sentir a minha barriga a ficar muito dura? Chamei a Ana. Veio logo em seguida. Fez-me o toque.
- Está aqui a cabeça do bebé, não sentes? e diz para uma colega: Mais outro! Vamos começar a fazer força!
 Prepararam a marquesa, colocaram as perneiras e vá de fazer força… A primeira vez falhou. Relembrou-me que quando viesse a contracção era aproveitar.

07:20 Passados segundos, senti novamente a barriga a ficar dura e lá vai!
-Tanto cabelo! dizia ela.
Virou-lhe a cabecinha e disse-me: É outro Vasco!
Quando o tirou definitivamente e mo colocou em cima da barriga, chorei... 
Foi o repetir de uma experiência que se revelou em tudo diferente, mas ao mesmo tempo, em tudo igual. A emoção de ver o Tomás foi a mesma… como da primeira vez.
Ficámos ambas na sala, num ambiente de paz e silêncio. Mostrou-me a placenta: a casinha que durante meses albergou o meu bebé. A outra enfermeira levou o Tomás para o pesar. O Zé já estava no corredor; foi tudo tão rápido que nem houve tempo para o avisar. Sei que ficou desiludido. Passou toda a noite dentro do carro, junto ao hospital e depois não deu para o avisar…

E mais uma vez, a nossa história terminou com um final feliz.

Tudo diferente porque a graça de dar à luz é-nos concedida para que seja vivida e sentida de diferentes formas. Tudo igual, porque o amor que uma MÃE sente pelos filhos é equitativo, inesgotável e infinito. Amam-se os filhos, gratuitamente.



Fez-me mãe pela segunda vez e eu gostei tanto.

Comentários

  1. Parabéns ao Tomás e à mãedetrês! Fiquei encantada com este testemunho e com outros que já li.
    Continue!

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