Carta ao meu pai

Oito anos passaram desde que partiste. Oito anos a juntar a outros de ausência. Não guardo ressentimentos. A vida é como tem de ser, ou o que fazemos dela. Mas fazes falta, mais do que a mim, aos teus netos que ainda hoje falam em ti, guardando no seu melhor as memórias que lhes deixaste. E foram muitas - o mimo, o afeto e um orgulho que não te cabia no peito, dividido em quatro partes iguais. Emocionavas-te. O teu sorriso era espontâneo e radiante, só de os ver. As graças próprias da idade de cada um, contava-las vezes sem conta, expressas num tom de voz que encantava. Foste um avô amigo, que sabia gostar, como só alguns avós conseguem fazer. Não, não é para todos. A prova de tudo isto, foram as inúmeras vezes que o Vasco chorou depois de partires, ou porque se falava em ti, ou simplesmente porque se lembrava. E as lágrimas espontâneas de uma criança são o exemplo mais fiel de um sentimento recíproco, que na falta, deixa marcas.
De entre o muito que deixaste, onde inevitavelmente entra a saudade, há um objeto de um valor incomensurável. De tantos que tinhas, este foi o último que usaste, um clássico, elegante, tal como tu. Do meu pulso só sairá para o de alguém muito especial para mim, para ti. Não fazias diferença entre eles, bem sei, mas tu, para ele, fazia-la toda. Será para o mais velho, o teu relógio. Nem sabes como está crescido e em breve ficará um homem, pronto para usá-lo e estimá-lo, como fazias a tudo o que sentias verdadeiramente teu. E os teus netos são a prova disso mesmo.
Fazes-lhes muita falta, ainda mais do que a mim. Pena que tenhas ficado tão pouco.

Até um dia, pai.

16 de fevereiro 2018


Comentários

  1. esta é a ultima imagem que tenho do teu pai, numa passagem de ano no Bacelo, acho que a ultima dele, foi pena ter partido cedo demais,guarda no coração tudo o que ele te deu...poderia ter sido mais...mas foi assim...beijinhos minha querida

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