"Há dias que marcam a alma e a vida da gente"

Vivemos numa correria intensa, na qual cada minuto conta. O dia é preenchido por tarefas e atividades que se encaixam umas nas outras, como se de um puzzle se tratasse. Fazemo-las em modo piloto-automático. Mas, o pior é quando esta rotina é abruptamente quebrada. Aí muda tudo.

Aconteceu na 2ª feira. Várias chamadas da escola, de uma auxiliar, de amigas. A mãe que tinha o telefone no silêncio, não se apercebeu. Felizmente por pouco tempo.
- O T não se está a sentir bem. Tem febre e dor na barriga junto ao umbigo e do lado direito.
- O quê? Vou já para aí!
Voei.

1ª paragem - centro de saúde (atendidos de imediato) / 1º diagnóstico - (possível) apendicite
2ª paragem - Hospital de Beja (em ambulância, com direito a ti-nó-ni)
3ª paragem - Urgência Pediátrica / 2º diagnóstico - suspeita de apendicite...
4ª paragem - Ecografia - diagnóstico inconclusivo
5ª paragem - Avaliação do 1º cirurgião / 3º diagnóstico - apendicite (diagnóstico clínico não comprovado por imagem)
6ª paragem - SO - Urgência Pediátrica - chegada do 2º cirurgião:
- A minha sugestão é operar.
- Quando?
- Já; assim que haja vaga no bloco. Estão programadas duas cirurgias mas vão ter de esperar. Protelar a situação pode agravá-la ainda mais.

- Mãe, não te vás embora! Eu não quero ser operado! Mãe, não me deixes! (de-ses-pe-ra-do).
Conversámos... acalmou.

7ª paragem - bloco operatório
Até aqui fui sempre uma mãe super-forte, mas só até aqui.
Sabem o que é eternidade? Eu já sei. Duas horas e meia à espera; o equivalente a uma década, talvez um século... Uma ansiedade, um nervoso miudinho que só visto.
(...)
- Correu bem. Quando vos chamarem, podem ir ter com ele ao recobro.

 A partir daqui, dores (muitas), soro, analgésico, paracetamol, morfina... medir tensão e temperatura, levantes difíceis, lágrimas, sorrisos, histórias e leituras, ...
Da minha parte, cansaço, um cadeirão por companhia, que me arruinou o esqueleto, mimo só para um, e muita saudade de quem me telefona a engolir lágrimas e a disfarçar que está tudo bem.




Obrigada à minha cunhada, aos bombeiros, à pediatra que o recebeu na urgência, à equipa de cirurgia e ao cirurgião Nuno Mateus, à anestesista e pessoal do bloco operatório, às enfermeiras e auxiliares da pediatria.

Aos meninos e meninas que se encontram internados, rápidas melhoras. Às respetivas mães, coragem.



Comentários

  1. Também sei o que isso é. Vê-los assim e sermos incapazes de fazer alguma coisa. O meu a primeira cirurgia dele tinha um mês e meio, hérnia foi operado correu tudo bem, mas quando o pediatra me diz "mãe quando o seu filho tiver dor de barriga é só dor de barriga, o apêndice encontrava-se dentro do saco da hérnia, e assim optamos por fazer já a cirurgia". Achei que era muito cedo mas eles é que sabem.
    A segunda cirurgia tinha 2 anos, aquela cirurgia que muitos rapazes fazem (pilinha), foi muito chato o pós operatório. Veio para casa com uma sonda, 2 fraldas uma dentro da outra.... bem foi muito difícil.
    Mas no fim passa tudo! Principalmente quando nos enchem de mimos, beijos e abraços doces. Beijinhos e as melhoras ao rapaz.

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  2. Obrigada Ana! É sempre muito doloroso, especialmente para as mães, ver os filhos sofrer. Tenham que idade tenham porque ser mãe, é para sempre.
    Bj

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  3. Aconteceu-me exatamente o mesmo com o António e o pior nem foi o apendicite, foram os pontos infetados e novo regresso ao hospital em véspera de Ano Novo e uma enfermeira "sem paciência"... Mãe Aninhas solta as garras e chama a diretora de serviço e salienta em voz alterada que sem paciência deveria estar uma criança que tinha feito uma cirurgia há meia dúzia de dias e que estava de regresso ao hospital. E que se a enfermeira gostaria de estar a festejar o novo ano em vez de estar a trabalhar deveria ter escolhido outra profissão onde não se trabalhe por turnos... a partir daí tratamento 5 estrelas.
    São assim... algumas MÃES.
    As melhoras Tomasito, já sabes que gosto muito de ti; beijinhos e miminhos.

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    1. Infelizmente há situações em que nos vemos subjugadas à "vontade" (ou falta dela) de alguns técnicos de saúde, o que nos fere de imediato as susceptibilidades e solta a fera que há nós!
      Noutras situações já me aconteceu. Esta foi exemplar; todas aqueles que nos receberam, ajudaram e acarinharam o meu "bebé".
      Para além disso, estes momentos são sempre de ansiedade, de fragilidade; tocam-nos no ponto fraco - uma parte de nós - os filhos.
      Obrigada :)

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