Mixórdia
Pedi uma sopa tradicional portuguesa num restaurante. Eis quando o tão aguardado caldo verde chega à mesa, ainda a fumegar. Não foi preciso muita mexedela, para me aperceber que havia algo diferente - tinha feijões e bagos de arroz misturados, quiçá, restos de outra sopinha, fazendo assim render a dose e ganhar uns trocos com isso.
Chamei a empregada, rapariguinha inexperiente, mas muito simpática, e disse-lhe que tinha pedido caldo verde - sopa com batata e couve - e não o que me tinha trazido. Olhou para a tigela e, meio sem jeito, disse que era uma "espécie" de caldo verde. Perguntei-lhe, se fosse ela a cliente, se aceitaria, sem contestar, ou se comeria aquela espécie de sopa. Respondeu: "Eu não! Que de parva nâo tenho nada e não gosto que me enganem!"
Mandei, obviamente, a sopa para trás.
Alguns ingredientes, quando misturados, desvirtuam o prato original. Mesmo leigos em gastronomia, qualquer um se apercebe da mixórdia, o tal "gato por lebre", já diziam os antigos. O mesmo em relação às sopas que, quando adulteradas, podem cair mal e dificultar a digestão. Pior ainda, é comer e calar, ou aplaudir, numa tentativa de disfarçar a falta a qualidade para fazer jeitos ao estômago. Por esta razão, a falta de qualidade dos ingredientes pode comprometer o prato, o que, a miúde, contribui para sérios problemas gastrointestinais, para além de um grave desvirtuamento da gastronomia tradicional. E por mais que se pense que as pastilhas digestivas ou um chá nos pode salvar da congestão, já estamos a trabalhar no prejuízo e, claro, não compensa, que com a saúde e o nosso bem-estar não se brinca.
Que nos fique na lembrança, que sopas para render ou ingredientes misturados sem rigor nem preceito, para além de serem uma verdadeira mixórdia, podem dar mau resultado, prejudicando também o bom nome do estabelecimento.
Aplica-se à sopa e à vida.
Vale a pena pensar nisto.
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