Manhã cinzenta

A manhã começou cinzenta, não só pelo estado do tempo. E até não foi pela dificuldade em levantar. Hoje mais do que nunca, a demora no vestir, escovar dentes, calçar... soou-me a eternidade, a qual não tenho, muito menos de manhã!

Começo a ver os minutos a passar, e também a vê-los em frente ao espelho da casa de banho, a olhar para o "céu de estrelas", ou em frente ao aquecedor até ficarem vermelhos que nem tomates e de olhos secos, ou até, sentados/deitados em cima do tapete...

Já lhes expliquei que não posso chegar atrasada e que eles também não. Que não é bonito. Que não devemos deixar os outros à espera... etc, etc, etc, etc. E com isto, cada vez mais me convenço que nestes momentos estou a falar noutra língua, talvez um qualquer dialeto indígena do interior da Amazónia, ou coisa assim... pois voltam a fazer o mesmo.

Já de paciência esgotada, a ver o relógio quase a chegar às nove (o que me deixa como se estivesse a ver uma bomba-relógio prestes a rebentar) lá me vem o tom de voz género altifalante, a entrar pelos ouvidos adentro daqueles que se encontram nas proximidades. 

Lanches preparados, mala ao ombro e ouvia questões como:"O meu lanche já está feito? É o quê?"; "Mãe, os meus óculos?"; "Onde estão os meus ténis?"; "Ainda não me penteei..." aspeto que até ninguém repararia, tal era o enleio naquele cabelo...

A juntar a este espetacular episódio, ir a pé até à escola (não é longe... ) foi a cereja no topo do bolo!
- A pé? Não acredito, mãe!
- Sim, a pé, se me tivesses ouvido, talvez te tivesses despachado mais depressa!
O pequeno entrou em desespero e dizia que ia perder o autocarro da Ovibeja...

Estes momentos estragam-me o início do dia, fico zangada. Não gosto de gritar com eles; depois fico de coração apertadinho porque sei que também ficam tristes. Mas no fundo (bem lá no fundo) reconhecem que a mãe tem razão.

Talvez amanhã pensem nisto. Mas só amanhã. 




 

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Onde mais se meteu o nariz