Setembro - o mês não

As redes estão impregnadas de boas-vindas a setembro. O mesmo acontece com os outros meses do calendário, bem sei, mas é a este que dou mais atenção, talvez pelo facto de nunca ter gostado dele. Não simpatizo, não empatizo, desde há muito. Não há uma razão em particular, ou há, quiçá. Tento superar este... nem sei que lhe chame! Odiozinho de estimação? Não será tanto. Por estes dias, comentava até com uma amiga que só pode ser karma este meu preconceito com o pobre mês. Em  resposta, dizia-me que deveria retirar o que de mais positivo me dá. Obrigada, querida A! Sempre a injetar boas energias!

Embora o ano não tenha terminado,  faço por norma um balanço em setembro, mas este 2020, a continuar dominado pelo bicho, valha-me Deus! Tanta emoção! Medos e receios, confinamento, desgaste, coabitação permanente, pandemia, ensino à distância (OMG), telescola, mortes, infetados, máscara, desinfetar, lavar, higienizar... Por mais palavras que escolhesse, andaria muito em torno disto. Contrariamente, e num campo lexical mais positivo, alegrias, família, união, coragem, aprendizagens, comida, vinho, video-chamadas,... Com estes dois últimos elementos, ri muitas vezes às bandeiras despregadas!

Entretanto, lá pusemos o pé de fora, artilhados de máscaras e gel desinfetante. Num cuidado inicialmente rigoroso fomos-nos aventurando: praia aqui, serra acolá, esplanada aqui, restaurante ali. Depois, numa pseudo-descontração, passámos a cumprimentar-nos com cotoveladas (quem diria) sim, porque os Tugas precisam de tocar; não é a mesma coisa se não tocarmos nos outros - o beijo, o ABRAÇO, meu Deus, o abraço despreocupado, forte, intenso, daqueles que nos envolvem a alma, lembram-se? Que saudades!

Feito o balanço, ganhei em união micro-familiar. Não que não a tivesse, pelo contrário, saiu reforçada! Se dias houve duros e laboriosos, outros excederam as expectativas, com ações tão simples e inusitadas, que em época de crise têm outro valor. Esta foi sem dúvida a melhor parte.

Enfim, é setembro. Considerando que já passámos por tanta coisa este ano, sobrevivemos, mas lamentamos perdas. Algumas são-me particularmente tristes.

É setembro, e surgem as rotinas que não me apetece ter. Horários a cumprir, alvoradas madrugadoras, corre-corre estonteante, o trazer e levar, o não poder falhar com nada, porque o nada pode ser tudo e fazer toda a diferença. O nervoso miudinho do início do ano escolar, este, também atípico, com novas realidades, procedimentos disto e daquilo. 

Deixar a rotina do vivre doucement deixa-me nostálgica, inquieta e sem norte. Recomeçar é sempre difícil, caramba! Afinal foram seis meses - sempre - com eles, e verdade seja dita não estou assim tão farta; nem eles. Mas há que voltar à (possível) normalidade. Apesar disso, ainda há dias ensolarados, quilómetros de praia e fins de semana; urge aproveitá-los. 

Afinal de contas, é sorrir e acenar aceitar.



Não me tem apetecido escrever, aliás, fazer o que quer que seja. Também não escrevo por encomenda, contudo, este texto é especialmente dedicado àqueles que me perguntavam por que razão já não escrevia há tanto tempo. A vós, a minha vénia.







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