#dia 6 (sabe Deus de quantos)
Hoje é o meu sexto dia de quarentena; o sétimo dos meus filhos. Agora já se começa a tornar penoso porque os cenários bonitos, os spots idílicos que albergam pais e filhos em plena harmonia, cheios de atividades, com rotinas perfeitas, só pertencem às stories do instagram.
Não sei se as notícias são mais dramáticas do que a situação, se será o contrário. Certo é que neste momento, há a certeza de um estado de emergência. Afinal o que para alguns não passava de alarmismo, tornou-se numa avalanche de infetados com tendência para piorar, segundo as previsões. Uma catástrofe a que nunca tínhamos assistido, que nunca nos tinha tocado e que aliás, tínhamos a pretensão de que jamais nos aconteceria; coisas de filmes. Mas não, o cenário é de guerra.
Pontos de situação feitos a toda a hora e a cada hora, mais mortes a lamentar aqui e acolá.
A internet adoece-nos por si só - ele são as "fake", ele são as bacoradas provindas de cabeças ocas, os bitaites de gente que sonhou ser médico ou investigador desde pequeno, mas cujo QI não o permitiu. Os açambarcadores que se têm vindo a especializar de há uma semana para cá, o aumento desmesurado do preço de bens que passaram a ser essenciais, como o álcool ou um simples desinfetante para as mãos, máscaras ou luvas.
O cenário bélico dos hospitais contrasta com a paisagem quase apocalíptica da grande maioria das cidades. São poucos os que ainda se movimentam e a partir de hoje a circulação confina-se apenas ao imprescindível.
Em duas semanas vimos a nossa vida ao contrário, o mundo às avessas.
Nem imagino o trabalho extenuante dos técnicos de saúde que acodem (ou tentam) a quem já foi apanhado pelo "bicho".
Ninguém estava preparado para isto! Ninguém! Nem governantes, nem SNS, nem operadores de caixa, nem camionistas, que agora trabalham dia e noite para assegurar que nada nos falte. Mas falta. Falta saúde e com essa não se brinca. Faltam equipamentos e condições a quem cuida de nós, a quem nos socorre e os únicos que nos podem salvar.
Faz-se o que se pode mas não chega, porque o bicho não dá tréguas. Lamentam-se milhares de mortes em todo o mundo e já nem o meu Alentejo está a salvo. É o estado de sítio.
Por aqui continua-se a trabalhar. Não, os professores não estão de férias!
O débil sistema de ensino também não estava preparado para isto e estamos neste momento, uma vez mais, na linha da frente a tentar segurar a parede-mestra chamada Educação, a qual admite colapsar. E atrás seguir-se-ão outras estruturas e num ápice voltaremos aos tempos difíceis dos quais ainda temos memória, de tão recentes que são.
Vão-se os anéis, ficam os dedos, diz o povo. Mas o povo desta vez enganou-se porque os anéis são as vidas e essas não têm preço.
O país está exausto, à beira do precipício. A paragem forçada, a clausura dentro da nossa própria casa e o bicho a alastrar, silencioso, sagaz, mortífero.
Mas continuamos a cumprir, como sempre, porque se o barco se virar, vira-se para todos. O recolhimento é por isso um dever cívico, durante quinze dias, sujeito a posterior avaliação. Espero que corra bem, para todos.
Certamente já todos tínhamos pensado que mais tarde ou mais cedo, surgiria a 3ª guerra mundial.
Só nunca supusemos que o adversário fosse um bicho com coroa e 125 mm de diâmetro.
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A todos quantos estão a assegurar o funcionamento da nossa sociedade, obrigada!
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Sim, sabe Deus de quantos. Nunca pensámos em passar por uma coisa assim, mas aconteceu. Tal como diz, uma guerra contra um bicho tão pequeno...
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