Adolescência - esperar que passe

Pensava eu que isto não era tão mau de aturar, que o meu filho seria mais perfeito do que qualquer outro, e que tudo aquilo com que eu lido e assisto diariamente, não passaria pela minha casa. Achava também que, afinal isto agora até é mais tranquilo do que na minha altura…
Achava; já não acho.

Tenho um adolescente em casa. Até aqui nada de novo, a juntar ao que já escrevi sobre este assunto. O que é que alterou? Muito. Ouvia eu, que a franca mudança até era mais cedo, o que me levava a crer que lhe tinha passado ao lado. Enganei-me. Agora sim, veio para ficar e ao mais alto nível, acrescida de uma brutalidade nas atitudes e dos tais síndromes do "eu é que sei", do "grande novidade" e do olhar de soslaio como que em jeito de "vocês não percebem nada disto". Em suma, isto mais ou menos visto, é sentir-se o maior, mais que não seja, cá de casa!
As respostas num tom de voz já consideravelmente grave tiram-me do sério, principalmente quando dirigidas a mim, ao pai e ainda num volume mais elevado, aos irmãos (coitados). O aborrecimento com que nos atende o telefone, uma espécie de favor que nos está a fazer, uma seca… Nestas situações só me apetece cravar-lhe a mãozinha na face, mas vá.

Apesar de tudo, tentamos ir a bem. Conversar, chamar (muitas vezes) à atenção, fazê-lo ver que não é assim, que é assado. Tentamos estar ao lado, sem pressionar demais e evitar o conflito. Mas há dias… ai mãezinha da minh'alma!
Depois, noutros momentos percebo o conflito interior que vai em si. Tanta hormona aos saltos! Querem, no entanto não são capazes de gerir tanta emoção; em minutos é o tudo, noutros, o nada. O que não faz com que possa falar da maneira que lhe dá na real gana, nem fazer o que quer. Nestes momentos lá recorro aos clichés: "tens que nascer outra vez"; "eu também já passei por isso, sabes?" pensando ele que isso é impossível pois há três séculos - a idade com que provavelmente nos vê - não se vivia assim. Engana-se, como enganado está se por acaso pensa, que tem uns pais "tapadinhos", que não se apercebem das coisas quando ele tenta ludibriar. Aqui tiveste azar, rapaz!

Há dias uma mãe confessava-me o seu desencanto perante esta fase:
- "… por que é que ela não é como era dantes?! Há dois anos que é isto!"
E eu pensava para mim, como eu te compreendo, mas junta a esses dois, o IVA… E pela minha experiência, é ligeiramente mais inflacionado nas raparigas.

Certo é que à minha frente, tenho um filho que aos poucos vai deixando de ser só meu/nosso, um filho que se quer libertar de um casulo que sente como insuficiente para o tanto que quer ser. Está a renascer e a tornar-se outra pessoa, com uma vida que deseja, por ora, distante dos nós (os tais dois anciãos). Sinto-o a deixar-nos aos poucos. Os amigos são agora o núcleo duro, o que na verdade até compreendo, pois lembro-me o que sentia. Aliás, nunca vi a minha adolescência tão próxima quanto agora.
Vão sendo diminutos os afagos, não que eu não os queira dar, mas que ele dispensa. Ainda assim, continuo religiosamente, com o beijo de boa-noite, mesmo que já esteja a dormir. De manhã, repete-se o ritual que não vou permitir que se perca, nem a cumplicidade, nem a empatia.

É claro que o quero ver voar e bem alto. Só não quero que caia, não porque a bagagem lhe pese (e essa nunca é demais) mas pelo simples facto de que, se se magoar, os estilhaços atingir-me-ão, tal como aquando das quedas que caiu ao dar os primeiros passos e que me rebentavam o coração.

É claro que pensa que sabe tudo. Mas também é claro, que nos momentos em que baixa a crista (e nos quais tenho a certeza que reconhece que não procedeu bem) percebe que há quem mande e que são coincidentemente, as mesmas pessoas que lhe querem o melhor deste mundo e mais além.

Chego à conclusão de que isto da adolescência é como um jogo. Com regras e com sucessivos lançamentos de dado que podem a qualquer momento, alterar o caminho. Por vezes há jocker; outras não. Quero acreditar que este meu "dado" será sempre bafejado pela sorte.











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